Fotos : ASPAFF EM AÇÃO

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

ASPAFF dentre outras entidades assina manifesto em defesa do Parque Estadual das Sete Passagens





MANIFESTO EM PROL DO PARQUE ESTADUAL DAS SETE PASSAGENS E COMUNIDADES DO ENTORNO

O Parque Estadual das Sete Passagens, uma Unidade de Conservação de Proteção Integral, inserida no semiárido baiano, não somente é destaque em gestão de excelência no território brasileiro, mas possui uma história desde antes de sua criação de envolvimento popular, protagonismo, e preocupação com a preservação ambiental envolvendo pessoas de comunidades de seu entorno.

O PESP é responsável direto pelo abastecimento hídrico de milhares de pessoas nos municípios de Miguel Calmon e Jacobina, esse abastecimento não se dá apenas para uso humano como também suprimento para desenvolvimento de atividades agrícolas e dessedentação animal, atividades essas que são a base da economia nas comunidades, somado a isso, há ainda, o abastecimento da população da cidade de Serrolândia, já que as nascentes existentes na unidade são responsáveis por alimentar rios, riachos, barragens em seu entorno, tornando-se uma verdadeira caixa d’água para a região em que está inserida, região esta que tanto sofre com secas prolongadas.

O PESP possui uma riqueza biológica significativa, inclusive com espécies enquadradas em alguma categoria de ameaça de extinção e de relevante importância científica.

O governo do estado da Bahia, sob representação do INEMA - Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos em parceria com o BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, está realizando estudos para concessão dessa tão importante Unidade de Conservação a iniciativa privada. A população de Miguel Calmon foi pega de surpresa com a noticia de concessão a iniciativa privada da unidade em oito de fevereiro de 2021, sem maiores esclarecimentos pela gestão publica estadual, a alegação de quem os representa é que o PESP modelo de gestão e preservação eficiente no Brasil onera os cofres públicos.

Em 11 de abril de 2021 ocorreu uma reunião com o Conselho Gestor, que deveria ser sobre esclarecimentos diretos referente a esse processo, mas os conselheiros não obtiveram respostas diretas sobre o que poderia acontecer com a unidade de conservação, com os recursos hídricos, biodiversidade e consequentemente com a população do entorno da unidade, o qual não foi surpresa de que já havia um avanço referente aos estudos necessários para a implantação da proposta, quando de sua concessão. A reunião se limitou a explicação do que era concessão, mas o INEMA junto ao BNDES, diante de solicitações de conselheiros, firmou a responsabilidade de realizar oficinas com esclarecimentos e discussões junto as comunidades do entorno que poderiam começar a partir do mês de julho.

As oficinas, discussões, contato direto com as comunidades não foram realizados pela equipe responsável por esse processo de concessão. Durante o período do segundo semestre o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Miguel Calmon, em representação dos trabalhadores e trabalhadoras rurais de várias comunidades, encaminhou solicitação pedindo maiores esclarecimentos sobre o processo e não obtive resposta.

Em 13 de dezembro de 2021 ocorreu uma segunda reunião com o Conselho Gestor, mas com o número mínimo de conselheiros, uma vez que houve um problema de comunicação do INEMA na divulgação e liberação do link para acesso a reunião, realizada de forma remota. Nesta reunião foi apresentado o projeto de concessão, explicitando construções pela Unidade de Conservação, delimitação de área de uso, exclusivas para áreas de relevância e viabilidade turística, e etapas já concluídas do processo de estudo. Para nossa surpresa, dentre as etapas já concluídas, está o diagnóstico socioambiental, ainda que a equipe responsável por esse estudo nunca esteve presente, ou ao menos se tem conhecimento do levantamento in loco desta equipe nas comunidades do entorno. Quando questionados sobre a ausência dessa presença in loco, a alegação por parte da equipe foi a de que o diagnóstico socioambiental se deu com a reunião do conselho gestor realizada em abril, onde nada foi deixado claro sobre destino e uso da unidade e principalmente de seus recursos hídricos.

Está aberta uma consulta pública online, disponível no site http://www.meioambiente.ba.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=580 , onde se pode encontrar nove documentos que explicitam o processo de licitação, contrato e uso da unidade, mas muitos pontos não estão claros sobre o que vai acontecer depois da unidade está na mão da iniciativa privada por 30 anos ou mais, principalmente no que se refere a recursos hídricos, efluentes, comunidades.

Muitas pessoas inseridas nas comunidades do entorno não têm acesso a internet, o BNDES não realizou pesquisa para entender o perfil desses moradores e ter certeza que essa consulta publica online é inclusiva e que de fato os anseios dos moradores serão ouvidos, cabe destacar que as oficinas com as comunidades não foram realizadas.

Sobre a audiência pública, mesmo antes de findar o período da consulta publica na internet, com data prevista 07 de fevereiro de 2022, o estado estima realizar audiência publica ONLINE, na última semana de Janeiro.

Percebam o processo, uma unidade de conservação que surgiu a partir de anseios de pessoas comuns das comunidades com quase 5 anos de luta até o seu decreto de criação, com 21 anos de existência, sendo destaque em gestão e relacionamento com comunidade agora será concedida a iniciativa privada após pouquíssimos contatos virtuais, consulta pública online e audiência online. Não podemos permitir que não sejamos ouvidos, exigimos contato direto, olho no olho, explicações mais esclarecedoras.

Destacamos aqui que em todo esse processo os prefeitos das cidades de Miguel Calmon e Jacobina, onde o parque estar inserido, não realizaram nenhuma manifestação publica sobre o assunto, e esse posicionamento, ou falta dele, se repete em todos os outros gestores públicos municipais da região que também são beneficiados com a existência da unidade de conservação e manutenção de seus recursos hídricos.

O Parque estadual das Sete Passagens, sua história, população de Miguel Calmon, Jacobina e toda a região merecem respeito e, sobretudo, ser ouvida. E por fim, reiteramos que nossa natureza é sagrada, temos territórios autônomos e não consentiremos que nossos bens naturais sejam especulados por setores neoliberais em que colocam os lucros acima da vida. Acreditamos na capacidade de gestão pública, principalmente nas unidades de conservação ambiental e lutaremos até as ultimas consequências pela melhoria dos espaços de participação social, em função de um Estado de direito mais democrático e da melhoria das políticas ambientais.

Assinam esse documento as entidades, abaixo representadas.

 Associação Protetores da Serra - APS

Associação Comunitária de Água Branca - ASCAB

Escola de Sustentabilidade Integral - ESI

Associação Comunitária de Murici

Associação Comunitária de Mulungú dos Chiolas

Núcleo das Associações da Região de Bagres União lado Oeste do Parque

Associação de Pequenos Produtores de Queimada Nova

Associação Comunitária de Bagres

Sindicato dos trabalhadores Rurais de Miguel Calmon

Associação Comunitária do Povoado de São Sebastião e Adjacências

Associação Comunitária de Cabaceiras

Associação Comunitária dos Produtores Rurais do Covas

Associação de Condutores Ambientais e Guias de Itaitu - ACAGI

Associação  Comunitária  dos  Produtores  Rurais  de Taquara  e Cedro

Associação dos Pequenos Produtores Rurais do Campo do Silva /Bitu

Associação de Ação Social e Preservação das Águas, Fauna e Flora da Chapada Norte - ASPAFF

Movimento Salve as Serras (SAS)

Cooperativa de Trabalho e Assistência a Agricultura Familiar Sustentável do Piemonte - COFASPI.

Sindicato Rural de Miguel Calmon

Comissão Pastoral da Terra - Ruy Barbosa

Associação Comercial Agropecuária Industrial de Miguel Calmon – Bahia

Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Itapicuru – CBHI

Sociedade Brasileira de Ecologia Humana – SABEH

Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco

Grupo Ambientalista da Bahia – Gambá

Associação Comunitária Quilombola do Povoado de São Tomé

Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Salitre 

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