Os incêndios florestais acontecem em diversas regiões do
Brasil, e em que 90% dos casos são causadas pelo homem, o que representa uma
ameaça real à sustentabilidade de determinados ecossistemas e prejudicam os
esforços globais para a conservação da água. Em períodos de estiagem, quando a
vegetação está seca, é comum também à queimada por causas naturais, sem que
haja a intenção do homem. Neste caso, qualquer fagulha ao cair no solo pode se
transformar em um grave incêndio florestal, devastando áreas inteiras.
As Serras de Jacobina com suas elevações acima de 1000m
favorecem o acúmulo de água e o surgimento de inúmeras nascentes. Destaca-se que
os vales das serras, (Figura 1), devido ao encharcamento excessivo,
proporcionam o desenvolvimento das turfas de montanhas. As turfas em outras
partes do mundo são protegidas pela Convenção de Berna, 1979 e Directiva
Habitats, 1992, pelo fato de serem o habitat de uma grande
diversidade de espécies raras e protegidas, além de serem um verdadeiro
reservatório purificador, ou seja, purificam a água, retendo na sua estrutura
todas as substâncias que são transportadas em solução, tais como íons metálicos
e outras substâncias tóxicas. Contribuem
também para regular a infiltração da água após chuvas intensas, sendo
gradualmente liberada durante os períodos de baixa precipitação, regulando
ainda a erosão dos solos e o microclima local.
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Figura 1 – Vista da Serra de Jacobina e localização dos
vales - 2017. Foto: Modificada de Eugênio Junior.
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As turfas de montanhas funcionam como um combustível para o
fogo. Nestes locais, a velocidade da
queima é lenta e ocorre no subsolo, e nem sempre é possível ver as chamas, que
podem durar dias ou meses. Apesar disso, produz combustão de grande quantidade
de biomassa por hectare, em alguns casos até maiores que aquela produzida por
um incêndio florestal na superfície.
Esse incêndio vai 'cozinhando' o solo e queimando as raízes das plantas
por baixo, podendo chegar a uma vegetação em superfície dando início a uma
labareda, que pode passar para outra região transformando-se em uma reação em cadeia.
Muitas dessas queimadas que se propagam ao longo das serras
(Figura 2) podem ser intencionais ou não, no segundo caso, na maioria das vezes
trata-se de incêndios provocados por queimadas para limpeza de terrenos,
principalmente na zona rural, sendo hoje considerada como uma das principais
causas dos incêndios florestais.
A prática da queimada na zona rural está presente em nossa
sociedade há décadas. O ato de queimar é negativo, pois o solo perde nutriente
e os microrganismos que garantem a sua fertilidade. Com isso o solo fica
empobrecido, e no decorrer dos anos, ao longo de consecutivos plantios a
situação se agrava gradativamente, o que resulta na infertilidade da área. Do
ponto de vista ambiental, as queimadas são responsáveis pelo desmatamento de
grandes áreas nativas, o que pode comprometer o equilíbrio hídrico de toda a região.
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Figura 2 – Incêndio Florestal na Serra de Jacobina – 2017.
Foto: Eugênio Junior.
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Apesar de ser uma prática nociva e proibida, o novo Código Florestal (LEI Nº 12.651), aprovado em 2012, autoriza o uso do fogo em atividades de subsistência exercidas pelas populações tradicionais e indígenas. Tudo isso mediante a prévia aprovação do órgão ambiental competente, que deve estabelecer os critérios de monitoramento e controle de queimada. Entretanto, esta prática historicamente vem sendo negligenciada, o que é considerado crime ambiental, com previsão de pena de reclusão de dois a quatro anos e multas por hectare queimado, conforme estabelece o artigo 250 do Código Penal. Além da possibilidade de responder a processos criminais, aquele que utilizar do fogo sem licença ambiental está sujeito a pagar pelos danos morais causados a sociedade, que fica tolhida de desfrutar do patrimônio ecológico.
Somado a isto, as ausências de um Plano de Prevenção a
Incêndios Florestais, um Plano de Manejo em Áreas de APP- (Áreas de Proteção
Permanente) e um Plano de Recuperação de Nascentes nas serras e no seu entorno
potencializam os riscos ambientais causados pelo fogo e podem comprometer o
abastecimento de água local para as futuras gerações.
Isto em um momento em que as discussões sobre políticas
públicas nacionais e internacionais relacionadas às alterações climáticas e seus
previsíveis impactos sobre os recursos naturais estão em evidência. Neste contexto de grande incerteza faz-se
necessário o desenvolvimento de estratégias para garantir a sustentabilidade
dos recursos naturais, que devem ser evidenciadas e discutidas pelos órgãos
governamentais e empresas privadas, do contrário, os recursos naturais
sensíveis como é o caso das Serras de Jacobina, correm risco.
Destaca-se que dos quase 200 km de Serras/Montanhas (Serra
de Jacobina) com cotas acima de 1000m pertencentes à Bacia Hidrográfica do Rio
Itapicuru, 31 km encontram-se dentro dos limites geográficos do município de
Jacobina, sendo o restante distribuídos em 9 municípios, incluindo os
confrontantes, tais quais, Miguel Calmon, localizado a sul de Jacobina, Caém,
Mirangaba, Saúde, Pindobaçu, Antônio Gonçalves, Senhor do Bonfim, Campo Formoso
e Jaguarari, localizados a norte de Jacobina (Figura 3).
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Figura 3 – A – Mapa da Bahia indicando a localização
da Bacia Hidrográfica do Rio Itapicuru; B- Mapa de Localização da Serra de Jacobina
e Municípios confrontantes.
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Portanto, a elaboração e execução de um Plano de Prevenção a Incêndios Florestais, um Plano de Manejo em Áreas de APP- (Áreas de Proteção Permanente) e um Plano de Recuperação de Nascentes de forma integrada entre os 10 municípios confrontantes com as Serras de Jacobina parece ser uma medida necessária para a revitalização das nascentes e conservação das turfas, de modo a somar esforços para a conservação global da água, bem como minimizar os efeitos locais dos incêndios florestais e dos prejuízos já ocorridos, estes incalculáveis do ponto de vista ecológico e financeiro e que ameaçam inclusive o desenvolvimento do Turismo Sustentável da Região.
Carlos Victor Rios da Silva Filho/ Geólogo M.Sc. Email:Carlosvictor02@yahoo.com.br
A Serra da Jacobina é uma fonte importante de água, e diversidade biológica, nela nascem os rios mais importantes da bacia, que proporcionam água doce para abastecer a população e para produzir alimentos, além da enorme biodiversidade que abriga. Fornecem recursos fundamentais como minérios, produtos florestais, produtos agrícolas, além de fonte de lazer. No entanto seus ecossistemas estão passando por uma rápida mutação, devido ao processo de ocupação desordenado que vem causando, erosão acelerada do solo, deslizamentos de terras e desmatamento com importantes perdas da diversidade genética e de habitat. O resultado é que a maior parte dessa área montanhosa está experimentando um processo importante de degradação ambiental.
ResponderExcluirO esgotamento dos remanescentes florestais nas áreas montanhosas tem direta relação com os ciclos hidrológicos, cuja irregularidade traz, hoje, conseqüências diretas sobre a produção de água. A recente crise energética que passamos nos leva a refletir na importância das florestas para as terras em geral e, em especial, para as montanhas e a produção de água.
As montanhas são uma das áreas mais frágeis do planeta e, apesar dos esforços de governos e de diversos setores da sociedade, vêm sendo permanentemente degradadas. Seus recursos, em especial, água e biodiversidade, são fundamentais para a qualidade de vida de grande parte da população. No mundo, 10% dos habitantes vivem neste ecossistema e 40% depende dele diretamente. Em todos os continentes existem montanhas de diferentes elevações, com grande variedade de formas e climas, e combinações específicas de ecossistemas, que incluem desde o equador até as regiões polares. Durante milênios, as montanhas têm sido fonte de valiosos recursos. Mas as tendências atuais como o incremento do turismo e a ocupação desordenada põem em perigo as comunidades das montanhas e os recursos daqueles que delas dependem, tornando o tema “desenvolvimento sustentável das montanhas” um tema de importância similar à de outros temas fundamentais do debate mundial sobre o meio ambiente e desenvolvimento como: mudanças climáticas, biodiversidade, desmatamento e desertificação.
A Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou 2002 como Ano Internacional das Montanhas (AIM) com o objetivo de criar consciência sobre a importância planetária dos sistemas montanhosos, fomentar o debate e as ações ambientalmente sustentáveis nesse ecossistema e pela estreita relação entre as montanhas e os recursos hídricos. O Brasil, apesar de sua imagem intimamente vinculada ao litoral e à floresta amazônica, possui significativas extensões montanhosas. Nestas áreas ainda se encontram representativos estoques de diversidade biológica, além de peculiaridades culturais de grande valor.
Pedro Roberto Regis Queiroz
Turfeiras são ambientes onde há o desenvolvimento de turfas, provenientes da lenta decomposição de vegetais. Por desenvolverem-se em ambientes saturados de água são sensíveis aos processos erosivos. Tais processos são desencadeados, principalmente, através de movimentos de massa rasos. Vários mecanismos podem ser apontados como deflagradores desses processos tais como: cisalhamento por carga; efeitos de flutuação; liquefação basal; cisalhamento da superfície ou margem da turfa. Nesse sentido, procurou-se compreender quais os principais agentes geradores da erosão nesses tipos de depósitos, para tanto foram identificadas, cadastradas e localizadas as feições erosivas encontradas. Por serem ambientes passíveis de preservação da história natural, além de serem reservatórios naturais de água em pequenas bacias hidrográficas e sumidouros de carbono, as turfeiras merecem devida atenção da sociedade científica.
ResponderExcluirPedro
Muito interessante e esclarecedor. Ao que tudo indica, as montanhas e seus ecossistemas são fontes vitais de água doce e se colocam como um dos ecossistemas mais sensíveis do planeta, sendo inclusive tema de inúmeros debates em todo o mundo. Ainda assim esse tema é desconhecido da maioria da população região da Serra de Jacobina , talvez pela inércia história dos órgãos ambientais.
ResponderExcluirÉ preciso revisar este modelo de desenvolvimento, pois os problemas previstos para o futuro podem chegar muito mais rápido do que se pensa.
Muito interessante e esclarecedor. Ao que tudo indica, as montanhas e seus ecossistemas são fontes vitais de água doce e se colocam como um dos ecossistemas mais sensíveis do planeta, sendo inclusive tema de inúmeros debates em todo o mundo. Ainda assim esse tema é desconhecido da maioria da população da região da Serra de Jacobina, talvez pela inércia histórica dos órgãos ambientais.
ResponderExcluirÉ preciso revisar este modelo de atuação de desenvolvimento, pois os problemas previstos para o futuro podem chegar muito mais rápido do que se pensa.